“Era uma vez uma linda formiga
chamada Juju. Tinha duas trancinhas e olhos cor de caju...”
A Formiga Juju vivia numa cidade em que todos – sapos, pássaros, formigas, tartarugas
e todos os bichos – tinham o gosto da leitura. Todos os dias, antes de o Sol se
esconder, a Formiga Juju e os outros bichos do bairro faziam um círculo para
lerem em conjunto e, depois, debater o conteúdo das histórias que liam. Assim,
todos os bichinhos do bairro, mesmo aqueles sem condições para a compra, tinham
acesso ao livro.
Na cidade da Juju, a leitura era já uma prática habitual. Funcionava como
um jogo: um dia era a vez de um escolher a história, no dia seguinte calhava a
outro. E assim, todos participavam! Mesmo com várias ocupações – escola, jogar
bola, dançar xitsuketa[1],
visitar amiguinhos, ajudar nos deveres domésticos – sempre reservavam um
tempinho de cada dia para o círculo das histórias.
A Formiga Juju era amiga de todos no bairro. Mas, entre todos, havia um
especial: o seu eterno amigo, o Sapo Karibu. Por sua vez, o Karibu era amigo do
Sabiá, um pássaro aventureiro com canto namoradeiro.
O passáro aventureiro, numa das suas rotinas de aventura, afastara-se até um
bairro periférico, distante da cidade onde ele vivia com a Juju e o Karibu. Chegado
lá, o Sabiá fora bem recebido por todos os membros da comunidade. Entretanto,
com o seu olhar clínico, ele observava minuciosamente o comportamento, hábitos
e cultura daquela comunidade. Assim percebeu que os bichinhos daquela comunidade
gozavam a sua infância e adolescência por um período muito curto.
O problema é
que havia um grupo de malfeitores que
aparecia de noite e lhes roubava o que eles tinham de mais precioso: o direito
de ser feliz. Em qualquer casa onde houvesse um bicho pequenino, entravam um
por um e desligavam a luz da infância que brilha dentro de todas as crianças. E
depois, sabem o que acontecia àqueles bichinhos? Nunca mais brincavam nem jogavam...
não choravam nem riam... nem sequer sorriam!
De volta a casa, o Sabiá levava consigo, no seu nobre coração, aquela
triste realidade. O pássaro aventureiro, logo que chegou a casa, procurou pela
sua amiga formiga por reconhecer que ela estava sempre disposta a ajudar. Uma
vez contado o drama daquela comunidade, a Formiga Juju começou a queimar os seus
miolos pensando numa medida alternativa para resolver aquela situação. Lembrou-se
então do círculo das histórias, que se tornara prática quotidiana no seu bairro.
– Haaa, haaa, haaa – bateu suavemente na testa com o dedo indicador – Já sei o que podemos fazer para ajudar os nossos amiguinhos daquela
comunidade: a solução é a leitura! Lendo vais a toda a parte... chegamos longe
sem nos deslocarmos, despertamos para novos horizontes.
A solução era óbvia, mas colocava-se outro problema: como despertar o gosto
pela leitura naquela comunidade se não havia um único livro no bairro?
Juju decidiu então convocar uma reunião na sua cidade para juntos
procurarem uma solução. Ao expor a situação perante os seus colegas e irmãos,
as palavras de Juju tornar-se-iam um hino que haveria de inspirar toda a cidade
por muitas gerações: “Vamos juntos
promover e disseminar a prática da leitura e assim despertar novos horizontes. Lendo
vais a toda a parte!”.
Fiel ao seu espírito de entre-ajuda, toda a comunidade decidiu contribuir
de alguma forma para essa causa nobre. A Formiga Juju foi a primeira a dar o
exemplo: decidiu oferecer um dos livros que tinha na sua mesinha do quarto. Depois,
outros bichos da comunidade, incluindo o Karibu e o Sabiá, seguiram o mote.
Recolheram livros, jogos, instrumentos musicais... e muitos outros materiais!
Faltava então carregar toda essa xidjumba
de conhecimento para o bairro. Como não cabia tudo na bicicleta do Karibu,
decidiram todos juntos construir um tchova especial que serviria de depósito do
material. E pelo ímpeto e criatividade da Formiga Juju nesta nobre causa, a
cidade inteira decidiu atribuir ao tchova o seu nome, passando desde então a
chamar-se O Tchova da Juju.
Chegados lá, foram recebidos com muita hospitalidade. Encantado com aquele
tesouro que traria a luz de volta à sua comunidade, o régulo pediu à Juju que o
tchova ficasse ali para sempre. Ele lembrava-se do jogo das histórias que fazia
em pequeno, com os seus avós, ao qual chamavam de karingana.
E assim, pouco a pouco, começaram a fazer aquilo que Juju lhes recordara – criar
um círculo e jogar às histórias: um dia contas tu, outro dia conto eu! E assim,
através dos livros, os bichinhos daquela comunidade foram recuperando o direito
de ser feliz. Inventavam canções para cada história, faziam desenhos para
colorir, saltavam à corda, jogavam ao elástico, descobriam letras novas, brincavam
à matemática e escreviam as suas próprias histórias.
Comovidos com a transformação na sua comunidade, os ndotas e sungucates [2] entoaram
numa só voz a música de José Mucavel:
E assim foi que, naquela comunidade, de novo se acendeu a luz da infância –
aquilo que faz brilhar os olhos de uma criança!
Autor: Obadias Muianga
Que saudades dos tempos em que a Formiga Juju promovia a pratica e gosto pela leitura. Se Pudessemos resgatar as actividades da Formiga Juju pelo menos nod finais de semana e feriados. Quero acreditar que as criancas nos bairros imploram e clamam pela nossa ajuda. Meus cumprimento a todos que ainda acreditam na ressureicao da Formiga Juju em Mocambique. Obadias Muianga
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