Lembro-me do dia em que conheci a
Denise Martins.
Foi em 2013, na Festa da Música, no
Jardim Tunduro, bem no coração de Maputo. Ela tinha ido assistir a uma
apresentação do nosso primeiro conto, “A Formiga Juju na Cidade das Papaias”.
Combinámos ali o nosso encontro na sequência de um email que me enviou sobre um
trabalho de educação musical que estava a realizar com a história da Juju, numa
escola periférica de Maputo.
Para descrever esse encontro,
preciso de roubar uns versos ao Alexandre O’Neill:
Mal nos
conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Foi assim com a Denise, uma
sensação de reconhecimento. Ela transbordava de cor, alegria, energia e emoção.
Falava sem filtros, directamente do coração. Percebi, de imediato, que era uma
grande formiga. Desde então, não mais parou de nos inspirar e contagiar.
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Denise Martins: uma grande formiga! |
Foi por causa desse encontro que
hoje me preparo para fazer o caminho inverso entre
Maputo e Ituiutaba. É difícil de acreditar, mas em apenas um ano, a Denise
regressou para o Brasil, dinamizou o primeiro conto da Juju junto de 11 escolas
municipais e, já em 2014, idealizou o musical do segundo conto, chamado “A
Formiga Juju e o Sapo Karibu”.
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A Formiga Juju e o Sapo Karibu |
Ninguém pode imaginar o que nós
sentimos ao ver a nossa pequena formiga moçambicana, bela e feliz com a sua capulana,
atravessar continentes e oceanos, para chegar às crianças de Minas Gerais. Foi,
por isso, com um misto de orgulho e humildade que recebemos o convite da
Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer, para assistirmos às
actividades da Formiga Juju em Ituiutaba, em Maio e Junho deste ano.
É a primeira viagem que faço ao
Brasil e sempre quis conhecer. Quando penso no Brasil, penso em alegria,
exuberância, espontaneidade e criatividade. Penso na pedagogia visionária do
Paulo Freire, por quem nutro uma admiração herdada de meus pais. Releio com ternura as aventuras de Zezé falando com "O Meu Pé de Laranja Lima", no romance de José Mauro de Vasconcelos. Recordo a voz
do Caetano Veloso adoçando a canção que o meu filho adora: “gosto muito de te
ver, leãozinho...”. E, de há um ano para cá, imagino as crianças de Ituiutaba dançando
marrabenta!
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Formiguinha de Ituiutaba tocando xilofone |
Quando fundámos o movimento da
Formiga Juju, em 2012, a nossa motivação inicial era levar livros às crianças
que não têm livros. Em Moçambique, apenas 2% das crianças em idade escolar sabe
ler fluentemente. Quando vamos para os “bairros” (aquilo que, no Brasil, chamam
de favela), praticamente não encontramos um único livro. Mas o livro e a
história eram – e são – apenas um meio, não um fim. A grande missão que
queremos concretizar é despertar o imaginário das crianças, através da leitura
e da expressão criativa, para que possam elas próprias tornar-se criadoras das
suas histórias.
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Lançamento da Formiga Juju em Fevereiro 2012 |
Com esta viagem a Ituiutaba,
acreditamos que podemos colher experiências e aprendizagens importantes que nos
ajudarão a chegar mais longe nessa missão. Queremos procurar exemplos brasileiros
de promoção da leitura, expressão criativa, pedagogia da ludicidade, prática
social, entre outros, e trazer de volta para Moçambique para enriquecer os
nossos programas junto de crianças em situação de carência extrema.
Acreditamos também que esta é uma
oportunidade para construir pontes, partilhar ideais e reforçar os laços entre
povos irmãos, a partir das crianças. Há tanto que nos une – e não apenas a
língua!
Por isso, como devem imaginar, é
enorme a expectativa e ansiedade de chegar.
Sabemos que esta produção envolve
um número incalculável de pessoas que, juntamente com a Denise, dedicaram horas
e horas de trabalho, criatividade e empenho pessoal para que este momento se
concretizasse. Obrigada por acreditarem que vale a pena ser formiga... juntos,
movemos montanhas!
Em particular, gostaria de referir
o nome de algumas formigas (permitam-me a ousadia...) pelo seu envolvimento e
dedicação para que esta viagem se realizasse:
- Lázara de Souza, Secretária
Municipal de Educação, Esporte e Lazer de Ituiutaba;
- Alciene Franco Martins,
Subsecretária da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer de
Ituiutaba;
- Joelma da Silva Almeida,
Especialista do Centro Municipal de Assistência Pedagógica e Aperfeiçoamento
Permanente de Professores (CEMAP);
- Aldair de Queiroz Franco,
Presidente do Rotary Club de Ituiutaba;
- Luiz Gonçalvez Junior, PhD. em
Educação, Professor na Universidade Federal São Carlos (UFSCar);
- sem esquecer a Formiga Adri, aqui
em Moçambique!
Um agradecimento sentido a todas as
instituições pelo seu importante apoio nesta produção:
Prefeitura
Municipal de Ituiutaba; SMEC/CEMAP; FEIT/UEMG; Conservatório Estadual de Música
“Dr. José Zóccoli de Andrade”; CAIC “Aureliano Chaves”; Escola Estadual
Governador Bias Fortes; Escola Estadual Camilo Chaves.
E porque os últimos são os
primeiros... aqui fica um obrigado muito especial a todas as crianças que participam
no musical do Sapo Karibu – não só as que sobem ao palco, mas também as que
ficam na plateia dando força e motivação aos protagonistas. Obrigada por
acolherem a nossa história no vosso coração, por aceitarem o desafio de ser
formiga e por nos ajudarem a preservar a criança que há em nós.
Como se diz em Moçambique: estamos
juntos!
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Estamos juntos! |
- Cristiana Pereira